quarta-feira, 7 de maio de 2008

Gravidez na Adolescência

Maria Sylvia de Souza Vitalle*
*Doutora em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM); médica do Laboratório de Pesquisa da Disciplina de Gastroenterologia do Depto de Pediatria da UNIFESP/EPM.

Olga Maria Silverio Amancio**
** Profa. Adjunto Doutora do Depto de Pediatria da UNIFESP/EPM

Introdução
A gravidez na adolescência tem sérias implicações biológicas, familiares, emocionais e econômicas, além das jurídico-sociais, que atingem o indivíduo isoladamente e a sociedade como um todo, limitando ou mesmo adiando as possibilidades de desenvolvimento e engajamento dessas jovens na sociedade. Devido às repercussões sobre a mãe e sobre o concepto é considerada gestação de alto risco pela Organização Mundial da Saúde (OMS 1977, 1978), porém, atualmente postula-se que o risco seja mais social do que biológico.
A atividade sexual na adolescência vem se iniciando cada vez mais precocemente, com conseqüências indesejáveis imediatas como o aumento da freqüência de doenças sexualmente transmissíveis (DST) nessa faixa etária; e gravidez, muitas vezes também indesejável e que por isso, pode terminar em aborto (Basso et al, 1991; Mimica & Piato, 1991; Taquete, 1992; Oh et al, 1993; Crespin, 1998; Chabon et al., 2000). Quando a atividade sexual tem como resultante a gravidez, gera consequências tardias e a longo prazo, tanto para a adolescente quanto para o recém-nascido. A adolescente poderá apresentar problemas de crescimento e desenvolvimento, emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado, além de complicações da gravidez e problemas de parto. Há inclusive quem considere a gravidez na adolescência como complicação da atividade sexual (Creatsas et al., 1991; Piyasil, 1998; Wilcox & Field, 1998).

Causas
A gravidez na adolescência é multicausal e sua etiologia está relacionada a uma série de aspectos que podem ser agrupados em:

Fatores Biológicos
Que envolvem desde a idade do advento da menarca até o aumento do número de adolescentes na população geral. Sabe-se que as adolescentes engravidam mais e mais a cada dia e em idades cada vez mais precoces. Observa-se que a idade em que ocorre a menarca tem se adiantado em torno de quatro meses por década no nosso século. De modo geral se admite que a idade de ocorrência da menarca tenha uma distribuição gaussiana e o desvio-padrão é aproximadamente 1 ano na maioria das populações, conseqüentemente, 95% da sua ocorrência se encontra nos limites de 11,0 a 15,0 anos de idade (Marshal & Tanner, 1969; Bezerra et al, 1973; Sedenho & Souza Freitas, 1984; Colli, 1988; Chompootaweep et al., 1997).
Sendo a menarca, em última análise, a resposta orgânica que reflete a interação dos vários segmentos do eixo neuroendócrino feminino, quanto mais precocemente ocorrer, mais exposta estará a adolescente à gestação. E nas classes econômicas mais desfavorecidas onde há maior abandono e promiscüidade, maior desinformação, menor acesso à contracepção, está a grande incidência da gestação na adolescência (Behle, 1991).

Fatores de Ordem Familiar
O contexto familiar tem relação direta com a época em que se inicia a atividade sexual. Assim sendo, adolescentes que iniciam vida sexual precocemente ou engravidam nesse período, geralmente vêm de famílias cujas mães também iniciaram vida sexual precocemente ou engravidaram durante a adolescência (Newcomer et al, 1983; Davis, 1989). De qualquer modo, quanto mais jovens e imaturos os pais, maiores as possibilidades de desajustes e desagregação familiar (Baldwin & Cain, 1980; Young et al, 1991; Dadoorian, 1996). O relacionamento entre irmãos também está associado com a atividade sexual: experiências sexuais mais cedo são observadas naqueles adolescentes em cuja família os irmãos mais velhos têm vida sexual ativa.

Fatores Sociais
As atitudes individuais são condicionadas tanto pela família quanto pela sociedade. A sociedade tem passado por profundas mudanças em sua estrutura, inclusive aceitando melhor a sexualidade na adolescência, sexo antes do casamento e também a gravidez na adolescência. Portanto tabus, inibições e estigmas estão diminuindo e a atividade sexual e gravidez aumentando (Hechtman, 1989, Block et al., 1981; Lima et al, 1985; Almeida & Fernandes, 1998; McCabe & Cummins, 1998; Medrado & Lyra, 1999 ).
Por outro lado, dependendo do contexto social em que está inserida a adolescente, a gravidez pode ser encarada como evento normal, não problemático, aceito dentro de suas normas e costumes (Necchi, 1998).
A identificação com a postura da religião adotada se relaciona com o comportamento sexual. Alguns trabalhos mostram que a religião tem participação importante como preditora de atitudes sexuais. Adolescentes que têm atividade religiosa apresentam um sistema de valores que os encoraja a desenvolverem comportamento sexual responsável (Glass, 1972; Werner-Wilson, 1998). No nosso meio, nos últimos anos as novas religiões evangélicas têm florescido, e são , de modo geral, bastante rígidas no que diz respeito à prática sexual pré-marital. Alguns profissionais de saúde que trabalham com adolescentes têm a impressão de que as adolescentes que freqüentam essas igrejas iniciam a prática sexual mais tardiamente, porém, não há pesquisas comprovando essas impressões (Guimarães, 2001).

Fatores psicológicos e contracepção
A utilização de métodos contraceptivos não ocorre de modo eficaz na adolescência, e isso está vinculado inclusive aos fatores psicológicos inerentes ao período pois a adolescente nega a possibilidade de engravidar e essa negação é tanto maior quanto menor a faixa etária; o encontro sexual é mantido de forma eventual, não justificando, conforme acreditam, o uso rotineiro da contracepção; não assumem perante a família a sua sexualidade e a posse do contraceptivo seria a prova formal de vida sexual ativa (American Academy of Pediatrics, 1979; Zelnick & Kartner, 1979; McAnarney & Hendee, 1989; Stevens-Simon et al., 1996). A gravidez e o risco de engravidar podem estar associados a uma menor auto-estima, ao funcionamento intrafamiliar inadequado ou à menor qualidade de atividades do seu tempo livre. A falta de apoio e afeto da família, em uma adolescente cuja auto-estima é baixa, com mau rendimento escolar, grande permissividade familiar e disponibilidade inadequada do seu tempo livre, poderiam induzi-la a buscar na maternidade precoce o meio para conseguir um afeto incondicional, talvez uma família própria, reafirmando assim o seu papel de mulher, ou sentir-se ainda indispensável a alguém. A facilidade de acesso à inforrmação sexual não garante maior proteção contra doenças sexualmente transmissíveis e gravidez não desejada (Sumano, 1998; Campos, 2000).
Estudo realizado na emergência obstétrica de hospital em Porto Alegre revelou que das adolescentes com vida sexual ativa que usavam algum método contraceptivo, 41% o faziam de forma incorreta ou realizavam trocas indadequadas. Apenas 18% relataram o uso de condom. Entre aquelas que não utilizavam nenhum método anticoncepcional, como justificativa argumentavam: o desconhecimento dos métodos; não quere usar e desejar engravidar; não acreditavam que pudessem engravidar; não ter condições para comprar; ser alérgica; ter medo que os pais decubram; o parceiro não querer usar (Gobbatto et al., 1999).

Repercussões da Gravidez na Adolescência
Sobre a mãe adolescente
Existem relatos de que complicações obstétricas ocorrem em maior proporção nas adolescentes, principalmente nas de faixa etária mais baixa. Há constatações que vão desde anemia, ganho de peso insuficiente, hipertensão, infecção urinária, DST, desproporção céfalo-pélvica, até complicações puerperais (Rubio et al, 1981; Sismondi, et al, 1984; Black & Deblassie, 1985; Stevens-Simon & White, 1991; Zhang & Chan, 1991). Porém, devemos ter o cuidado de nos lembrar que esses achados se relacionam também com os cuidados pré-natais e desde que haja adequado acompanhamento pré-natal, não há maior risco de complicações obstétricas quando se comparam mulheres adultas e adolescentes de mesmo nível socioeconômico (Felice et al, 1981; McAnarney & Thiede, 1981; Madi et al, 1986).
Outro ponto doloroso dessa questão é a morte da mãe decorrente de complicações da gravidez, parto e puerpério; sendo que na adolescência, em estudo realizado no nosso meio, verificou-se ser esta a sexta causa de morte (Siqueira & Tanaka, 1986).
No tocante à educação, a interrupção, temporária ou definitiva, no processo de educação formal, acarretará prejuízo na qualidade de vida e nas oportunidades futuras. E não raro com a conivência do grupamento familiar e social a adolescente se afasta da escola, frente a gravidez indesejada, quer por vergonha, quer por medo da reação de seus pares (McGoldrich, 1985; Aliaga et al, 1985; Fernadéz et al., 1998; Souza, 1999).
As repercussões nutricionais serão tanto maiores quanto mais próxima da menarca acontecer a gestação, já que nesse período o processo de crescimento ainda está ocorrendo. O crescimento materno pode sofrer interferências por que há uma demanda extra requisitada para o crescimento fetal (American Dietetic Association, 1989). A inundação hormonal da gestação promoverá soldadura precoce das epifíses naquelas adolescentes que engravidaram antes de ter completado seu crescimento biológico, podendo ter portanto, prejuízo na estatura final. Lembramos ainda que na adolescência há necessidades maiores de calorias, vitaminas e minerais e estas necessidades somam-se àquelas exigidas para o crescimento do feto e para a lactação.
Dada sua imaturidade e labilidade emocional podem ocorrer importantes alterações psicológicas, gerando extrema dificuldade em adaptar-se à sua nova condição, exarcebando sentimentos que já estavam presentes antes da gravidez, como ansiedade, depressão e hostilidade (Friedman & Phillips, 1981). As taxas de suicídio nas adolescentes grávidas são mais elevadas em relação às não grávidas (Foster & Miller, 1980; Hechtman, 1989), principalmente nas jovens grávidas solteiras (Cabrera, 1995).

Sobre o pai adolescente
De modo geral, o pai costuma ser dois a três anos mais velho que a mãe adolescente. A paternidade precoce se associa com maior freqüência ao abandono dos estudos, à sujeição a trabalhos aquém da sua qualificação, a prole mais numerosa e a maior incidência de divórcios (OPAS, 1995).

Sobre o Concepto
Existem riscos, tanto fisícos, imediatos, quanto psicossociais, que se manifestam a longo prazo, nos filhos de adolescentes. Devido a dificuldade em adaptar-se à sua nova condição a mãe adolescente pode vir a abandonar o filho, dando-o à adoção, e quando o recém-nascido não é abandonado, está mais sujeito, em relação à população geral, a maus tratos.
A literatura mostra que há maior freqüência de prematuridade, de baixo peso ao nascer, Apgar mais baixo, doenças respiratórias, trauma obstétrico, além de maior freqüência de doenças perinatais e mortalidade infantil. Deve-se considerar que estes riscos se associam não só a idade materna, mas principalmente a outros fatores, como a baixa escolaridade, pré-natal inadequado ou não realizado, baixa condição socioeconômica, intervalos interpartais curtos (< de 2 anos) e estado nutricional materno comprometido. Estas complicações biológicas tendem a ser tanto mais freqüentes quanto mais jovem a mãe (< 15 anos) ou quando a idade ginecológica for menor de 2 anos (Correa & Coates, 1993).

Epidemiologia da Gravidez na Adolescência
O aumento das taxas de gravidez na adolescência se deve, principalmente, às custas das faixas etárias mais jovens, em todo mundo.
Em 1980 o Brasil possuía 27.8 milhões de adolescentes entre 10 e 19 anos de idade, o que representava 23% da população geral. A taxa de fecundidade entre os 15 e 19 anos era de 11% . Nessa época, dos partos realizados pela rede do INAMPS, 13% eram de menores de 19 anos (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1980).
Conforme dados da Organização Panamericada da Saúde -OPS (1992), no começo da década de 80, 12,5 % dos nascimentos da América Latina eram de mães menores de 20 anos. A população de 15 a 24 anos (de alto risco para engravidar) chegou a 71 milhões em 1980. Estima-se que chegou a 86 milhões em 1990 e que no ano 2000 estaria em torno de 100 milhões de adolescentes. Isso indica que durante o período 1980 - 2000 a população de adolescentes na América Latina aumentaria aproximadamente 41,6%. A adolescente representaria, no ano 2000, 19% da população latino-americana. Na América Latina nascem 3.312.000 filhos de mães adolescentes por ano. A nível mundial, de cada 100 adolescentes entre 15 e 19 anos, 5 se tornam mães anualmente, o que eleva a 22.473.600 nascidos de mães adolescentes.
No Brasil, é no estrato social mais pobre que se encontram os maiores índices de fecundidade na população adolescente. Assim, no estrato de renda familiar menor de um salário mínimo, cerca de 26% das adolescente entre 15 e 19 anos tiveram filhos, e no estrato de renda mais elevado, somente 2,3% eram mães (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1988). Nas regiões faveladas do Recife, de cada dez mulheres que são mães uma é menor de 15 anos, sendo que 60% das mulheres têm menos de 20 anos de idade (Lima et al., 1990).
Em nosso meio, as taxas de gravidez na adolescência variam de serviço para serviço, mas estima-se que de 20% a 25% do total de mulheres gestantes sejam adolescentes, apontando que há uma gestante adolescente em cada cinco mulheres (Santos Júnior, 1999).
Estudo realizado em 1985, por Nóbrega et al. em nosso meio, mostrava que a distribuição de partos entre adolescentes de baixo nível socioeconômico-BNSE se dava da seguinte forma: 1,4% nas < 15 anos; 18,5% entre 15 e 19 anos, sendo que a população adolescente representava 14,4% do total e as menores de 15 anos 0,2% do total. Em trabalho retrospectivo realizado no ano de 1991 no Amparo Maternal (SP), entidade filantrópica que assiste basicamente a população de BNSE encontrou-se: 6.316 partos com recém-nascidos vivos no período, sendo que a população adolescente representava 24,4% do total e as menores de 15 anos 2,6% do total (Vitalle, 1993; Vitalle et al., 1997). Há, portanto, aumento da freqüência de gravidez na adolescência quando comparamos os dois trabalhos.
Rocha (1991), no Recife, encontrou 24,5% de partos na adolescência, em amostra de 5940 recém-nascidos vivos de BNSE, sendo que as menores de 15 anos representavam 0,5% do total e as de 15 a 19 anos 23,9% do total, dados muito semelhantes aos do Amparo Maternal (Vitalle, 1993), exceto pelas mães menores de 15 anos onde se observam percentuais maiores na população estudada em São Paulo, confirmando assim que a gravidez na adolescência está aumentando às custas, inclusive, das gestantes mais jovens.
Estudo de fatores de risco para verificar o surgimento de prematuridade e baixo peso, realizado no Município de São Paulo, mostrou que a adolescência não influencia a ocorrência de baixo peso, porém aumenta em 1,3 vezes o risco de ocorrência de prematuridade. Pode-se responsabilizar a inadequada condição econômica como o fator de risco mais importante na determinação de prematuridade e baixo peso, pois, controladas as demais variáveis (idade materna, tabagismo, cuidado pré-natal) encontrou-se o risco aumentado de 1,8 vezes de prematuridade e 2,1 vezes de baixo peso ao nascimento quando a parturiente provinha do baixo nível econômico (Vitalle, 2001).
A Organização Panamericana de Saúde atribui o aumento do número de filhos de mães menores de 20 anos de idade ao fato de que "o conhecimento sobre a relação sexual livre se difunde mais rapidamente entre os adolescentes, que o conhecimento sobre os efeitos biológicos e psicológicos adversos da gravidez nessa idade, tanto para a mãe quanto para o filho".

terça-feira, 6 de maio de 2008

Pílula do dia seguinte


Nos últimos tempos muitas notícias têm surgido na comunicação social sobre a chamada "pílula do dia seguinte", que começou a ser comercializada entre nós há alguns meses. Entre argumentos confusos e frases ambíguas muitos dos seus defensores têm tentado passar a ideia de que a dita pílula não é abortiva. É falso: a pílula é abortiva, pois pode causar a morte a um embrião de poucos dias de vida. Para esclarecer o assunto, Factos da Vida entrevistou o Dr. Víctor Neto, médico, especialista em Ginecologia/Obstetrícia.

Factos da Vida: Era uma vez um espermatozóide e um óvulo... Pode-nos explicar brevemente como começa a vida humana, os seus primeiros dias?

Dr. Víctor Neto: O primeiro acto indispensável para que se forme um ser humano é a fusão de duas células altamente especializadas, extraordinariamente dotadas e teleologicamente estruturadas e programadas, chamadas gâmetas: o óvulo e o espermatozóide.
Esta fusão, ou seja, a fecundação, dá-se no terço externo da trompa de Falópio. A partir deste preciso momento tem lugar um conjunto de actividades que evidencia que os gâmetas já não actuam por si sós, mas constituindo um novo sistema, uma unidade independente a que chamamos zigoto.
Esta estrutura vai demorar, através da trompa, de 5 a 7 dias até chegar ao útero. Para que isto aconteça sem haver como que uma rejeição por parte do organismo materno a este novo e diferente ser, é necessário que haja desde muito cedo uma informação no sentido de diminuir as defesas maternas, ou seja, uma certa imunosupressão. Está na base desta actividade ununosupressora uma proteína fabricada pelo zigoto chamada 'factor precoce da gravidez". Por volta do 10º dia já está nidado, ou por outras palavras, já está implantado no útero materno.
No entanto, antes desta nidação, este novo ser humano já tinha uma identidade genética própria, uma autonomia biológica, uma capacidade de diferenciação e uma capacidade de diálogo com o organismo materno.

FV: Que caracteres futuros ficam definidos logo no momento da fecundação? Sexo, cor do cabelo, altura...?


VN: O zigoto existe e actua, desde a fusão dos gâmetas como uma unidade, ou seja, como um ser ontologicamente uno. Outra característica é o facto de esta célula estar intrinsecamente orientada e destinada a uma evolução bem definida e precisa, devido ao genoma ou informação genética de que o zigoto está dotado.
Esta informação genética imprime ao zigoto uma identidade especificamente humana e uma identidade individual que o distingue de todos os demais zigotos humanos.
Está assim, como que escrito neste código, um plano rigorosamente orientado e intrinsecamente definido de um novo ser humano, que lhe confere um determinado corpo, com uma determinada figura humana (sexo, cor do cabelo, altura, etc.).

FV: O que é e como actua a chamada "pílula do dia seguinte" ou "da manhã seguinte"?


VN: É como que um método "contraceptivo" particular, a ser utilizado como uma urgência, para evitar uma gravidez depois de uma relação sexual não protegida ou mal protegida, possivelmente fértil. Os promotores deste método propõem-no não como um método de uso regular mas sim, sempre como um recurso.
O mecanismo de acção deste tipo de metodologia, depende da altura do ciclo em que a mulher toma o produto.
Sendo assim, se o método for utilizado após a ovulação e dando-se a concepção, esta pílula vai actuar impedindo que o novo ser humano entretanto gerado não tenha condições de nidar no útero materno, impedindo a continuação da gravidez. Se a pílula for tomada antes da ovulação existe a probabilidade de a impedir.
Do que foi afirmado anteriormente, resulta que a mulher está grávida a partir da concepção e não só a partir da nidação.
Um exemplo interessante é o caso de uma mulher estar e se dizer grávida, mesmo que tenha uma gravidez ectópica, ou seja, fora do útero (nas trompas, por exemplo).
No entanto, para que este tipo de metodologia possa ter uma certa aceitação por parte de uma grande parte da comunidade médica e público em geral, algumas pessoas tentam definir o início da gravidez como a altura da nidação.
Dentro de muito pouco tempo, dado o facto de o embrião comunicar quimicamente com a mãe antes da nidação, vai ser possível fazer testes de gravidez antes da implantação ocorrer. Neste momento, os testes de gravidez só dão positivos a partir do momento da nidação, em que é possível detectar uma hormona produzida nesta altura, que é a gonadotrofina coriónica, na urina da mulher grávida ou no seu sangue.

FV: Em Julho de 1999, quando a Infarmed (um instituto do Ministério da Saúde) aprovou a comercialização da "pílula do dia seguinte" sob a designação de Tetragynon, foi repetidamente dito que esta não é abortiva pois a gravidez começaria no momento da nidação (implantação no útero). Que comentário lhe merece esta afirmação?


VN: Como disse atrás, a gravidez inicia-se com a fecundação e não somente quando o blastocisto (assim chamado o novo ser humano na altura da implantação), chega ao interior do útero materno, nidando e dando continuidade a uma nova fase da sua vida já começada cerca de dez dias antes.
Todos sabemos que, para os defensores do aborto livre, a batalha das dez semanas foi perdida. Com outra metodologia, mas com as mesmas intenções, estes mesmos defensores da tese anterior estão a tentar ganhar uma outra batalha: a batalha dos dez dias - a intenção última deste tipo de produto é impedir a viabilidade do novo ser humano, só que numa fase mais precoce.

FV: Faz sentido chamar à "pílula do dia seguinte" "contracepção de emergência"?


VN: Este tipo de pílula não actua, em todos os casos, como anticonceptivo ou contraceptivo, na medida em que, na maior parte das vezes em que é tomada, ou seja, em pleno período fértil, actua não inibindo a ovulação mas após se ter dado a concepção.

FV: Em sua opinião, a que se deve esse eufemismo de "contracepção de emergência"?


VN: É de facto uma boa forma de se ultrapassar uma ideia desagradável - o facto de poder induzir o aborto (embora numa fase mais precoce) - com uma expressão bem mais suave, e portanto, mais bem aceite pelo público em geral.

FV: O que é o "consentimento informado"? Quais as suas consequências em relação a esta matéria?


VN: O acto ou efeito de consentir que uma pessoa tome este tipo de produto, pode depender da forma como lhe seja informada a forma de actuação.
Na minha opinião, nunca se deve, nestes casos, ser omitida a informação de que esta pílula não impede sempre a concepção, independentemente de se considerar ou não o inicio da gravidez como a altura da nidação.

FV: Quais são os efeitos secundários da "pílula do dia seguinte"?



VN: Os principais efeitos secundários são as náuseas e os vómitos. O risco de complicações vasculares (efeitos tromboembólicos) está ainda mal avaliado. No entanto recomenda-se que mulheres com factores de risco tromboembólicos pessoais ou familiares evitem a toma deste tipo de produtos. Estamos a falar apenas em efeitos a curto prazo, sabendo também que parece não haver efeitos teratogénicos (produção de mal-formações no feto).

FV: Os seus efeitos de longo prazo são conhecidos? Quer contar-nos o caso do DES? Analogias...?


VN: Não temos conhecimento deste tipo de estudos a longo prazo. No entanto recomenda-se às mulheres que optem por tomar estes produtos, que o façam apenas como alternativa de último recurso. Outro problema que estas drogas podem levantar, e que é talvez o mais sério, é o facto de poderem originar mutações nas gerações seguintes. O que é que isto significa? Significa que se uma mulher tomar certas drogas para abortar, estas poderão provocar alterações cromossómicas, alterações nos óvulos ou nos ovários que poderão não se manifestar durante três ou quatro gerações.
Nos anos 40, nos Estados Unidos, os obstetras usavam uma droga chamada DES-dietilestilbestrol. E usavam-na na convicção errada de que, de algum modo, impedisse o aborto espontâneo. Por outras palavras, se uma grávida chegasse ao médico com hemorragias, este sdministrar-lhe-ia DES, erroneamente convencido de que impediria que a gravidez se perdesse. Nos 30 anos seguintes ficámos a saber duas coisas:
que a DES era ineficaz, ou seja, que não tinha qualquer efeito no aborto espontâneo; e, mais importante ainda, nas grávidas que tiveram um feto do sexo feminino, que tomaram DES, e que não sofreram um aborto espontâneo mas conseguiram dar à luz a bebé, cerca de 15 anos depois estas raparigas tiveram o pior e mais agressivo tipo de cancro vaginal e muitas delas morreram. É esta referência que se faz quando se fala em mutações nas gerações seguintes: um efeito da droga que se pode manifestar apenas 30, 40 ou mais anos depois. E nós não sabemos nada acerca destes medicamentos que actualmente estão a ser utilizados para fazer abortos. Eles não foram testados, não existindo estudos sobre os efeitos a longo prazo, incluindo as gerações seguintes.

FV: Que outras formas de "contracepção de emergência" existem?


VN: Uma outra forma de fazer a chamada contracepção de emergência, além dos métodos contendo produtos hormonais, é com o DIU - dispositivo intra-uterino - caso seja colocado até cinco dias após a relação sexual dita não protegida.

FV: O que é a chamada "pílula abortiva" ou "RU486" ou mifepristona? Quais as semelhanças e diferenças em relação à "pílula do dia seguinte"?


VN: A mifepristona é um produto não comercializado em Portugal, capaz de provocar o aborto após a nidação. Esta é a grande diferença em relação aos métodos atrás falados, que funcionam ou inibindo a ovulação, ou na maior parte das vezes impedindo a nidação.

FV: A "pílula do dia seguinte" é um bom meio de prevenção das chamadas "doenças sexualmente transmissíveis", como a SIDA?

VN: Nenhuma contracepção de emergência dá qualquer protecção contra as doenças sexualmente transmissíveis.
Estudos feitos em países como a Noruega, Suécia, Irlanda, EUA, começam a demonstrar que apesar do grau intelectual e conhecimentos dos jovens, estes consentem conscientemente cada vez mais riscos. Por um lado, aumentando o risco de gravidez ao serem cada vez mais frequentes as relações sexuais sem recurso a nenhum método de contracepção. Por outro lado, pelo grande risco de doenças sexualmente transmissíveis, nomeadamente a Chlamydia (associada a cada vez maior número de casos de esterilidade) e o papiloma vírus humano (associado a cada vez maior número de casos de cancro do colo do útero). Estudos em adolescentes urbanos de Nova Iorque apontam para que 81% nunca usam qualquer contraceptivo, estando 87% dispostos a pedir a contracepção de emergência. As relações sexuais sem recurso a nenhum método de contracepção são cada vez mais frequentes em jovens (instruídas, universitárias, citadinas) que os recusam conscientemente.

Entrevista com o Dr. Víctor Neto.
Médico Especialista em Ginecologia/Obstetrícia
Consultor em Ginecologia
Consultor em Ginecologia/Obstetrícia
(in Factos da Vida, número 3, Maio de 2000)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Notícias da Anvisa


Brasília, 4 de janeiro de 2002 - 17h10
Pílula do dia seguinte tem a venda suspensa
Fonte: Agência Saúde






O anticoncepcional Postinor-2, conhecido como "pílula do dia seguinte", teve a venda suspensa por apresentar na embalagem prazo de validade acima do autorizado, conforme Resolução - RE nº 2.078, de 28 de dezembro de 2001. O prazo descrito era de cinco anos, mas o registro concedido no Brasil é para até três anos. Testes de estabilidade asseguram que esse é o período ideal para o consumo do remédio. Quem produz o medicamento é o laboratório Aché.


Veja outras pílulas do dia seguinte que são medicamentos similares, possuem o mesmo princípio ativo (Levonorgestrel), mesma concentração (0,75 mg), mesma forma farmacêutica (comprimido) e estão registrados e com venda permitida no Brasil:



















Pílula

Laboratório
NorlevoMeizler Comércio Internacional S/A
PozatoLibbs Farmacêutica Ltda
Pilem Biolab Sanus Farmacêutica Ltda
NogravidHebron S/A Indústrias Químicas e Farmacêuticas

Cochrane BVS



(pilula) - 2 encontrado(s)

Resumos de Revisões Sistemáticas traduzidos ao Português (2)







-Contraceptivos orais bifásicos versus contraceptivos orais monofásicos para contracepção
-Contraceptivos orais bifásicos versus trifásicos para contracepção

quarta-feira, 26 de março de 2008

#15
Search "Contraception, Postcoital"[Mesh] Limits: only items with links to free full text, Humans, Randomized Controlled Trial
08:14:33
2
#14
Search "Contraception, Postcoital"[Mesh]
08:13:08
237
#11
Search "Contraceptives, Postcoital"[MeSH Major Topic]
07:54:45
1410

quarta-feira, 5 de março de 2008

Base de dados :
LILACS
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"PILULA DO DIA SEGUINTE" [Descritor de assunto]
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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Descritor Inglês:

Contraceptives, Postcoital
Descritor Espanhol:

Anticonceptivos Poscoito
Descritor Português:

Anticoncepcionais Pós-Coito
Sinônimos Português:

Pílula do Dia SeguinteContraceptivos Pós-Coito
Categoria:

D27.505.696.875.360.276.310D27.505.954.705.360.276.310
Definição Português:

Substâncias anticoncepcionais para serem usadas após o COITO. Estos agentes incluem doses elevadas de fármacos estrogênicos; bloqueadores de receptores de progesterona; ANTIMETABOLITOS; ALCALOIDES, e PROSTAGLANDINAS.

Nota de Indexação Português:

gravidez apesar do uso = termo de anticoncepcionais sem qualif, não com /ef adv